Longe
Bernat Cormand
Martí Cormand
Longe conta a história de Eloi, um menino que não gosta do mundo em que vive, onde há sempre muito barulho. Com seu único amigo, o cachorro Simão, Eloi decide sair em busca de um lugar melhor para viver. E, depois de muito pensar, resolvem que o bosque seria o melhor destino, ali as árvores os protegeriam, poderiam encontrar um rio para se banhar e os animais seriam sua família. Após uma longa jornada, os dois têm certeza de terem feito a escolha certa: ficam maravilhados com a beleza da natureza, com o imenso silêncio.
Enquanto buscam o ponto certo para construírem uma cabana, ouvem o barulho das águas. Um rio passava por perto. Mas, algo terrível acontece e Eloi, sozinho, se desespera. Um menino, acompanhado de um grupo de animais, aparece – traziam o que Eloi havia perdido. Esse encontro lhe apresenta a possibilidade de uma nova perspectiva.
Um conto de iniciação, Longe é o último livro de Bernat Cormand – no qual ele trabalhava quando morreu. É um livro que fala de como Bernat percebia o mundo e do que desejava para si, uma jornada interior, muito íntima e profunda.
Um de seus irmãos, o pintor Martí Cormand, terminou as ilustrações a partir dos esboços e storyboard que Bernat havia deixado junto ao texto, pronto há um certo tempo. A história desse processo de feitura do livro é contada por Genís Cormand, também irmão de Bernat, em um livreto anexo. As ilustrações foram feitas por Martí de acordo com os estudos e esboços de Bernat, sempre respeitando seu desejo. Martí sabia que esse era um livro importante para o irmão, em que as imagens não apenas eram muitas, mas também revelavam tanto da história. Conhecia muito bem a poética de Bernat, sabia que queria tentar ilustrar a óleo e honrou seu desejo. Colocou-se a questão: “Como seria se Bernat pintasse a óleo?” e assim conseguiu manter a alma do irmão no livro, sem perder a sua.
Como nos outros livros autorais de Bernat, todos publicados no Brasil pela Livros da Matriz, as imagens delicadas transbordam força e intenção. Os olhos de seus personagens, que sempre nos encaram ora ou outra, revelam sua determinação. A solidão transparece na suavidade dos ambientes e cenas que cria, do mesmo modo como em cada traço que acaricia o papel. Martí, que aparece como personagem na novela A cabeça nas nuvens, consegue fazer o mesmo com a tinta a óleo, a cada pincelada.
Bernat narra mundos falando baixinho, entre palavras precisamente colocadas e imagens que trazem elementos limpos e organizados, isolados ou imersos na quietude dos ambientes e paisagens que cria. O silêncio reina em sua obra, talvez ali encontrasse o silêncio que tanto buscava. Isso também acontece em O menino perfeito (2017), Dias felizes (2020) e A cabeça nas nuvens (2023). Uma obra consistente e extremamente coesa, de um autor que se posicionou firmemente na luta pela liberdade de cada um ser quem é.
Tradução Dani Gutfreund
40 páginas
21 x 26,5 cm
Isbn: 978-65-86167-14-6